O Queismo de um Drama Divino

A cada um cabe a sua moira ou parte,
em uma dança grave cujos passos
são quadrados de uma colcha de retalhos,
de um filme que tem o mundo por cenário,
o sono por bravura e o leito por tela de projeção.
A cada um cabem o seu machado afiado,
o seu descaminho preso e a sua destreza,
distraída e pressurizada, que garantem
que a gravidade nunca lhe falte,
a fim de achatar-lhe o ego e tecer sua mortalha:
a entronização de uma morte cuja cova,
pacientemente, aguarda o que, de si, é fútil e ordinário.
A cada um cabe a tessitura
de uma trama que culmina
em confundir o tempero de uma comida
com uma planta que fulmina o enfermo
e profana pelo nefando a terra virgem,
acarretando a pena máxima por um crime
de uma cura para a dor de um Deus
que não se furta ao drama divino
e sucumbe à glória do seu destino.
A cada um cabe a porção de um desconhecido,
cujo desvelamento demanda toda a sua existência,
subtraindo-lhe todo o enredo paradisíaco
para mostrar-lhe que, no fundo, em essência,
é apenas vento e, queira Deus, que um dia
ao Vento de Deus retorne.