Mater Poetica
Nem a sombra da minha mão
ainda toca o véu de Maia.
Meus pés seguiram por uma estrada arenosa,
e toda a veia rugosa
da inverdade já não alcança
o coração talhado pelo tempo.
Cheguei a um ponto de curvatura,
um novo princípio, uma iniciação
ou um meio para um renascimento,
tal como em um rito antigo:
no labirinto enfrentando as feras,
tornando-me mais uma delas,
a reviver o mito do eterno retorno.
Não é tanto um círculo quanto um náutilo,
uma espiral que sempre se dobra,
sequiosa, sobre o próprio centro,
apenas para ampliar a sua órbita.
Às vezes, vejo-me na borda da galáxia,
a abandonar o curso primevo e arcaico,
para mergulhar no ventre de uma escuridão
que já não me transforma.
Procuro a explosão de uma supernova para expandir-me, coruscante,
sobre uma massa leve e gasosa,
a colorir o espaço, imitando as cores,
o movimento, os sentimentos, as dores,
as curvas e as formas de uma vida biológica.
Vejo-me a me precipitar rumo ao infinito,
alcançando a borda que separa
a matéria bruta da transcendência áurea.
Sou eu a pedra, o monolito ou o segredo de uma caverna anímica e arcaica,
que conduz a noiva, a Mística Primeva
ao casamento com o Discurso da Ciência.
Faço arte de uma forma científica
ou ciência de uma forma artística?
Toma-me, não o coração, a vida!
Queria fazer uma Poesia nobre e alta,
que fosse uma lágrima de júbilo e alegria
a escorrer pela face divina.
E, destarte, rasgar, ampliar, nutrir,
arar e florir o terreno das almas...
Mas a sombra da minha mão
já não toca o véu de Maia.
E, como qualquer coisa menos
sublime do que ordinária,
como qualquer ser moldado da argila,
eu também serei esquecida.
E não importa!
Eu só quero abrir a porta de uma alma,
que me faça querer mil vezes voltar à Terra,
para mesmo de mim esquecida, reencontrá-la e imitar, em miniatura empobrecida, a cosmogonia.
Repetir mais um Adão e uma Eva,
a experimentar o corolário de uma queda
e, desta feita, gerar filhas Poesias.
Mas isso é só uma megalomania onírica,
menos tempo e alma, do que efeito
do silêncio da madrugada.
Quero circundar o mundo e a galáxia,
para me ver tão ínfima e pequena;
de todos os meus sonhos, minoria,
sendo menor do que um sulco da sabedoria
- o desenho da eternidade na face divina-,
muito menor que a pretensão
da lágrima de alegria celestina.
Dedico-me apenas a cultivar a honra
e a tentar fazer-me digna, pela dor
de um ventre fértil e prenhe de poesia,
desta filiação, do merecimento do amor
do singular astro-rei, que habita o meu
coração, e da compaixão de Deus.
E, porque nem a sombra da minha mão
alcança o véu de Maia,
que eu vislumbro, através do lusco-fusco trêmulo da minha insciência,
a minha autêntica e insuspeita natureza:
não sou mãe da Poesia; sou filha,
ou quiçá, xamã ou sacerdotisa.
Ela me toma num arrebatamento extático,
vencendo, de assalto, o sono e o cansaço.
E, pela força mágica da sarça ardente,
revela-me tal filiação ou menos:
uma tutoria ou mero apadrinhamento.
Não sou eu o ventre prenhe de Poesia.
Sou cativa, por Ela, raptada da falsa
consciência de minha soberania.
Ela dispõe da minha mão e engenho,
ao preço da insônia, da mania e da exaustão.
Tal é a Poesia: é mais que poesia.
É profecia, epifania, hierofania;
é lágrima divina de amor e alegria,
ou a Presença de uma Deusa pagã Venusiana.
Há coisa mais sublime, terna e genuína
do que chamar de Mãe a Poesia?
Deise Zandoná Flores
Este poema faz parte do livro:
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