Imperdoável

À verdade, o perfume do perdão é ácido e impoluto,
de qualquer poeira doce ou entulho.
Mas quem consegue ofertá-lo, ao sentir,
na carne, o poder de sua adaga fina e afiada?
A verdade é imperdoável,
fé inabalável num poder supremo e invencível.
É a devoção à verdade um tal sacerdócio
que, quando trabalha, dela o homem se ocupa,
e se ocupa dela também no ócio.
A fé na verdade é de tal estirpe,
que o padrão moral nunca é rebaixado.
Não se torna, pela inveja, um recife,
porque por ela nunca é alcançado.
A despeito da confortável miopia ególatra
que turva a visão de nossa pequenez,
a Verdade é, por sua própria natureza,
Pura, Maiúscula e Aristocrática.
Requer do homem virtude e mérito para alcançá-La,
e o seu expoente em nobreza para sustentá-La.
É tal prova, batismo de fogo, defendê-La,
que o martírio, desde sempre um testemunho,
converte o homem nobre, do Seu tesouro, em cunho,
e não exige dele menos do que o peito:
em Seu penhor, oferece-lhe o espírito;
em Sua luta, traz na mão, o sangue; na outra, a espada.
E, por entender que é Imensa e Superior a si,
o guerreiro da Verdade não hesita em fazer-se mártir, por sua coragem,
e em Sua fiança, não teme ser martirizado.
Por isso, e não menos do que isso, a Verdade é imperdoável:
pede a morte do homem para o vil, profano e ordinário,
exige que o seu nariz resida rente ao chão ou mais embaixo,
para que nunca se esqueça do odor do solo.