O Cisne

Nenhum passado a despertar nostalgia,
Nenhuma pendência a se tornar tirania,
Nenhum molde em que ser encaixada.
Nenhuma identificação que seja completa,
Nenhum lugar para se chamar de origem,
Nenhum caminho a ser percorrido.
Nenhuma ofensa em retribuição,
Nenhum gatilho em arrebatamento,
Nenhum motivo para precipitar o ocaso.
Nenhuma conquista para elevação,
Nenhuma destruição para se tomar por fé,
Nenhuma validação a se tornar vaidade,
Nenhuma dívida que a se tornar prisão.
Nenhuma riqueza por herança,
Nenhuma tradição a ser conservada,
Nenhuma conserva a ser maldição.
Nenhum carinho para derreter o gelo,
Nenhum vínculo que faça ficar,
Nenhum comando para obedecer,
Nenhuma autoridade para respeitar.
Diante dos olhos, a estrada à frente.
O horizonte mostra a incompletude
do próprio ideal de completude.
Nos olhos, a imagem da estrada à frente,
Na lembrança, o passado como signo de advertência.
A ilusão da pendência se realiza em adeus,
A pendência é apenas um lugar que morreu.
O suposto trabalho convertido em abandono,
A foice afiada já não amputa a vida,
As velhas máscaras já não servem mais,
O lugar antigo não é senão predador faminto,
O mapa antigo foi sublimado em confusão.
Lágrimas acrescentam gotas ao oceano.
Os gatilhos estão travados...
A morte-amiga fez visita e já se foi,
Sua visitada adiada,
Seus motivos descartados.
Castelos de areia foram desmanchados,
A tradição foi questionada,
O carinho mal-endereçado se perdeu.
As instruções foram esquecidas,
As lealdades traíram e foram traídas,
Sinônimo de vida se tornou o adeus.